segunda-feira, 14 de julho de 2008

Revolta do Subúrbio

Será mais uma das milhões de reclamações que assombram o Rio de Janeiro. Mais (alg)uma(s) da cidade maravilhosa.

O que uma pessoa que não é do RJ pode fazer? Sim, compreendo que temos uma fama um tanto quanto suja: somos o povo da balada, da night, da bebida livre, do "jeitinho", do virar-a-noite-dançando além de mil outras famas mais estereotipadas tipo praia e corpaço. O que me supreende (ainda) é como vivemos (ou melhor, sobrevivemos) nessa gandaia que é o RJ, manhã, tarde ou noite.

A magnífica night do Rio (Copélia entra: prefiro não comentar) se resume ao seguinte: zona-feia, zona-elitizada e zona. No final das contas é tudo zona, zona na zona sul, o lugar mais popular do Rio. De Copacabana à tarde e as intermináveis obras até o antes-doce-e-agora-medonho bairro de Santa Teresa, é tudo zona. Levamos o primo paulista d'um amigo para uma night no Centro da cidade. Tudo bem que concordaremos não ser o lugar mais privilegiado, mas seria o mais acessível, levando em conta as possibilidades de assalto e o hotel.

Se eu pudesse resumir, o que não quero, é dizer que o Centro só está cada vez mais dado ao nada. Um lugar tão atraente e de valor inimaginável está dados aos mendigos e urina. Caso queira usar um banco à noite você tem que estar armado no mínimo. Caso queira andar tem que olhar fixamente para o chão. Basta um desvio de olhar que você leva um belo tombo ou ao menos tropeça, entre outros plus da nossa cidade de sorte.

Depois desse desastre de noite decidimos pela manhã ir ao complexo de Copacabana. Acho que podemos fazer um paralelo entre o Alemão e Copacabana: a única diferença é que em um temos casas e no outro prédios. Aliás, temos outras diferenças no que tange a questão de educação do tipo "com licença" ou "por favor". A nossa camada popular é bem mais educada.Voltando ao complexo de Copacabana, ele parece estar sempre em obras ("para a melhoria da cidade" - segundo o cartaz), mas me afogo em poeira sempre que piso na terra da so-called gente bonita. Aquele lugar vive em obra mesmo ou é só quando piso naquelas bandas? Resolvemos passear pelo Arpoador. Então um assalto e o nosso amigo paulista descobre o que é o Rio. Passam alguns globais e menos globalizados. Pavão-pavãozinho-ou-seja-qual-o-nome está ali atrás encoberto pelo complexo de prédios que se prolonga. Vemos na outra ponta o belo Dois Irmãos, mas a Chácara do Céu está cada vez mais próxima do céu mesmo. Resolvemos ir para Santa Teresa e descansar.

Parafraseando os Mamonas: "Chegando lá, mas que vergonha! Só tinha [buraco, asfalto cedido, bonde caindo, pivetes, árvores que não sabem o que é o verbo podar, favelas etc]". Ao menos salvo a roda de samba e os ainda-praticantes. Uma bela de uma vista do Páo (Como estava escrito em várias placas na praia do Flamengo) de Açúcar. Mais bela ainda a vista de Tavares Bastos engolindo o Catete e a Glória. Ou talvez a vista do Catumbi sendo engolfado pelo maremoto de favelas ao redor. Entretanto estava o pior por vir: decidimos ir para o Botafogo Praia Shopping, o shopping que tem 257 escadas e mais uma vista do Páo. Descendo a Glória nos deparamos com o descaso público. Escadas tortas, desniveladas, prontas para derrubar as milhões de senhoras idosas que encontramos na descida. O pior foi que estávamos na "parte boa" da Glória. Medo é pouco para descrever o negro que engolia aquelas vielas. Finalmente chegamos ao espaço decadente da Rua da Glória e caminhamos em direção ao ponto de ônibus. Encontramos um mendingo que pede "o que é dele, pois ele não rouba, só quer o que é dele". Entramos no táxi para fugir daquele lugar e chegamos nos confins do Botafogo Escada Shopping. Ali dentro você vive um conto de fadas, mas ao sair você pisa na vida real. Lembro em minutos que uma amiga foi assaltada ali na porta do shopping.

No final do dia percebi que prefiro ficar em meu cantinho que não tem buracos, não tem assalto em cada esquina entre outros. É subúrbio, mas é limpinho (em termos). Porém, acho que saneamento é papo de outro dia.

2 comentários:

Anônimo disse...

Você continua negativo e pessimista, o que é ótimo, te dá um olhar foda e todo seu sobre a cidade.
Talvez seja isso mesmo que disse, no final cê acaba se dando conta que a grande pátria é mesmo desimportante e aceita o subúrbio (até mais burguês que Copacabana).
Parabéns, querido.

P.S.: Ah, se o solo tá um caos, procure olhar mais pro céu. Dias belíssimos, esses últimos... Né?

Anônimo disse...

A propósito, é teu vizinho, Ricardo.