domingo, 27 de junho de 2010

A coincidência das coisas

O dia amanhece e para comprar o jornal. Café preparado, Sheryl Crow no rádio, mexo o papel e me deparo com uma matéria sobre o Rodrigo Leão. O que isso tem a ver comigo? Muito pouco. Apenas lembro de um e-mail que recebi dele criticando e elogiando alguns escritos meus. Criticou um trabalho pela falta de suporte teórico, apesar de ter elogiado a criatividade e a escrita do mesmo. Elogiou também uns dois poemas do Inferno dos Maremotos Pequenos.

É estranho ter tido tão pouco contato e me sentir inquieto com esse nome. Descanse em paz, Rodrigo.

Termino meu café e troco o CD. Agora toca "Tom's Diner". Tem uma ligação com a coincidência.

domingo, 20 de junho de 2010

My cup of tea: Under Rug Swept

Under Rug Swept, Alanis Morissette

Depois de escolher "Hands Clean" para uma aula, escolhi falar sobre o álbum que contém a canção mencionada. Under Rug Swept foi o álbum da Alanis que me fisgou profundamente. O anzol agarrou e não consegui me soltar. Dura até hoje.

Apesar de já conhecer a Alanis há tempos, apenas com Under Rug Swept comecei a notar como as suas palavras falavam diretamente comigo (e sobre mim). A guitarra fajuta, a batida e as frases cortas/pronunciadas de maneira estranha em "21 Things I Want in A Lover" ainda me fazem pensar nas intermináveis listas que fazemos ao conhecer alguém. Queremos qualidades e nenhum defeito. Queremos apenas coisas boas, mas descobrimos impossível alguém assim. Então, o que nos sobra além das listas e tentar dar um tick nos itens que já achamos?

Encontramos pessoas extremamente vaidosas. Pessoas que valorizam apenas o seu bem-estar. "Narcissus" me lembra como às vezes damos um tiro no próprio pé. "Hands Clean" traz à tona uma estória com uma pessoa bem mais velha. A experiência ao nossos olhos é sedutora e tentadora, mas será que vale sempre? Quem nunca esteve numa relação um pouco problemática e que precisou guardar segredos? Segredos que hoje servem de lição.

O amor que falhou no passado retorna em "Flinch". Com ele, todas aquelas sensações: frio na barriga, inseguranças e memórias. O amor que deveria ter durado, mas que não funcionou. As lembranças servem como tortura e precisamos nos libertar delas (How long can a girl stay shuckled to you? e How long can a girl be tortured by you?). As inseguranças continuam com "So Unsexy" e as questões sobre como amar a si mesmo.

Ilusões? Quem nunca as teve? Já sonhamos com diversos futuros. A incerteza sobre as relações está presente em "Precious Illusions". É mais simples não olhar para o novo com olhos de "falhei no passado, preciso acertar agora". "That Particular Time" com seu piano seco me lembra um pouco do clima árido que vivemos nas relações. Será que gostar do outro é suficiente? Será que gostar de alguém significa abandonar a si mesmo? Como a própria canção diz, naquele momento o amor me encorajou a esperar e ir embora, o amor me ajudou a ser paciente e a não correr novamente. Aquele mês foi mais difícil que você acreditaria, mas mesmo assim eu parti.

"A Man" traz uma sonoridade mais rock e aborda a visão masculina que temos do mundo. Alanis se transforma e (como as feministas gostam) descreve como os homens se portam socialmente. O amor retorna em "You Owe Me Nothing in Return" com a temática do amor nem sempre recíproco. Amar alguém já é suficiente e não somos donos de ninguém. Se você precisar relatar seus problemas, eu ouvirei. Se necessitar de incentivo para um novo caminho, eu te apoiarei. Você pode expressar as suas verdades mais profundas, mesmo que isso signifique perder você, e eu te ouvirei. Você pode até mesmo sair da cidade em busca da sua paixão que eu aceitarei. Assim é a verdade de gostar de alguém.

"Surrendering" é de longe umas das minhas favoritas. A animada melodia se encaixa perfeitamente com a letra honesta que aplaude, saúda e elogia a coragem da pessoa em aceitar se envolver. As táticas para a conquista são abordadas na canção e a coragem, a sabedora e a confiança são agraciadas com a honestidade. Não há como não chamar de arte. Fechando o álbum, outra gema não muito apreciada, "Utopia". A voz calma e a melodia singela envolvem o ouvinte na concepção de um mundo melhor. É possível transformar o caos em paz, caso queiramos isso. "Utopia" fecha com a sensação de um possível mundo melhor.

Atravessar o rock e o pop com maestria, abordar o amor em suas diversas formas, dar pitaco na paz mundial, admitir erros e acertos. Alanis conseguiu criar um álbum denso, curto e acessível. Um álbum que dominou o meu rádio essa semana e que sempre retorna. Welcome back, Under Rug Swept. E obrigado Alanis pela honestidade de cada dia. Amém.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Tudo o que posso dizer

Tudo o que posso dizer: desculpa.

terça-feira, 15 de junho de 2010

My cup of tea: Breakdown


É rock? É.
É pop? Também.
É uma mistura? Sim.
É uma salada de frutas? Sim.
É bom? Muito.

Breakdown não é o meu disco favorito da Melissa Etheridge, mas é o mais constante. Não só pela pegada mais catchy, mas principalmente pelo uplifiting sound dela. Não é pesado e triste como o meu favorito Skin, mas Breakdown é tão singular que está sempre no meu celular. Em um álbum Etheridge consegue abordar assuntos sociais (preconceito, homossexualidade) e pessoais (tristeza, solidão, alegria). "How Would I Know" aborda o erro nas conversas e como tentamos adivinhar/omitir detalhes importante, sendo que esquecemos que não há bola de cristal melhor que a sinceridade. A sombria "Scarecrow" foi baseada no assassinato de Matthew Shepard, um jovem universitário gay que foi assassinado e pendurado como um espantalho (conforme o título da canção sugere) - arrepios com a interpretação de Etheridge e a incapacidade de adjetivar tamanha violência. "Mama, I'm Strange" lida com a necessidade de ser outra coisa para agradar o mundo: "They said just have a ball, just be a Barbie doll, they churned and burned me out". Atenção para não perder a mensagem enquanto bate o pé com a melodia pop. Irônico, não? Ser outra coisa, tornar-se aquilo que o mundo pede e tudo ao som de um pop bem contagiante.

Canções como "Stronger Than Me" e "Enough of Me" tratam dos problemas em relacionamentos, como precisamos ser fortes sem oprimir o parceiro. Não é possível investir tanto e não ter retorno. A experimental "Into The Dark" aborda o momento negro que todos precisam passar. Pessoalmente interpreto até mesmo como violência verbal/não-verbal. A sinceridade nua e singela de "Truth of the Heart" em sua frase "Todos começam essa corrida no início e eu cheguei tão longe apenas com a verdade do coração". O álbum fecha com duas canções que usam o silêncio e a calma. "My Lover" descreve o/a companheiro/a e como essa pessoa faz toda a diferença na existência. Um porto seguro, um ombro amigo, uma pessoa que te conhece perfeitamente. Já "Sleep" com sua melodia suave e letra surpreendentemente simples fecha o álbum com a mágica de amar/gostar. Ao dizer que quer "ouvir o coração batendo, a respiração, deitar no ombro e apenas dormir", Etheridge demonstra que não é necessário muito para sentir-se feliz. Coisas pequenas bastam. Um álbum de 11 canções, pequeno e curto, mas com aquela sensação de descoberta sempre.

PS: As faixas extras "Touch and Go", "Cherry Avenue" e "Beloved" não foram contadas, mas igualmente completam o álbum. "Beloved" é de longe um das melhores provas da criatividade de Etheridge. Uma confissão sincera ao dizer "My beloved, the only one I see standing up for me".
...

Metade da laranja?


Eu gostaria muito de descrever a sensação que tenho ao ouvir "How Would I Know" da Melissa Etheridge. Gostaria de descrever a calma que ela traz, porém também ressaltaria a insegurança nas palavras dela:

How would I know if you don't tell me so?
If you wanted to go, how would I know?

É muito complicado aceitar que não somos uma metade esperando a outra. Nunca acreditei nessa ideia. Não consigo pensar que preciso de uma outra pessoa que me complete. Não aceito que eu deva me tornar algo além daquilo que já sou. Não quero ser a metade de alguém: é muito compromisso para mim. Quero saber que posso confiar e ter um porto. Um lugar onde o silêncio não é um pecado. Um canto onde posso ver a calma. Um lugar onde eu possa descansar e, se necessário, me reinventar. Acho que essa é a questão que Melissa levanta na canção. Você não se sente bem hoje? Você acha que existe um paraíso no próximo olá? Então, acredite nisso e seja o primeiro a dizer. Tenha a certeza da confiança, o prazer da cumplicidade. Quanto mais eu confiar, mais me sentirei seguro. Se há medo, não há confiança e hoje, acredito que, sem confiança não há nada. How would one know then?

Melissa pode não saber, mas eu não consigo ver a dor da separação nessa canção. Sinto a tristeza e a decepção, mas é uma forma de renascimento.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Agora é o Momento em que Peço Desculpa

Desapontar-te-ei agora. Sempre soube disso e
também te farei pensar. Nunca soube dizer
que as alegrias de você não são pequenos
frutos maduros esperando a colheita. Mas o
que faço agora que eles caíram?

Agora é o momento em que peço desculpa.
Agora é o momento em que faço as malas (ou você triste)

Machucar-te-ei. Sempre ciente desses erros e de
como um vento é inocente, mas a raiva vira
um tornado. Far-te-ei pensar: eu sou o único
que se desfaz do amor assim. Mas o que
faço se não o sinto?

Agora é o momento em que me visto e vou
Agora é o momento em que peço desculpa
por não acreditar em você

Agora é o momento em que finjo coragem e bravura
para aceitar que não há ação sem reação

Agora é o momento em que peço desculpa
por te desapontar.

Janeiro-Maio 2010

Um tempo

Um tempo desde que prometi escrever menos e agir mais. Um tempo desde que prometi focar em mim. Primeiro eu, depois os outros. Um tempo desde que me dei oportunidade de aprender com o silêncio. Se não há algo a acrescentar, o que posso dizer?